Planos para 2014

Nei Leandro de Castro
escritor

Pretendo me encontrar com Volonté, meu poeta peripatético preferido, no Bar de Nazaré, para tomar umas batidas de maracujá. Enquanto bebe batida ele vai falando sobre Nietzsche e de Imanuel Kant, seus filósofos preferidos. Beber ao lado de Volonté é um dos grandes prazeres de Natal. 

Quero ler, com urgência, o livro que Soares dos Anjos escreveu sobre Augusto dos Anjos e que será publicado pela Editora Sarau de Letras, de Mossoró. O livro, com 368 páginas, tem o título de “O Cosmopolitismo das Moneras”. Nas tertúlias da Livraria Câmara Cascudo não se fala noutra coisa. 

Falar em Augusto dos Anjos, tem aquela história na Confeitaria Colombo, centro do Rio de Janeiro, freqüentada na época por muitos intelectuais. Olavo Bilac estava na confeitaria, tomando o seu conhaque, quando surgiu um conhecido e lhe disse: “Morreu Augusto dos Anjos!” Bilac não conhecia o poeta paraibano, então o conhecido lhe mostrou alguns poemas do autor de “Eu e outras poesias”. Bilac leu e devolveu os poemas, comentando: “Deveria ter morrido há mais tempo!” 

Está praticamente certa minha viagem a Lisboa, com Woden Madruga, quando a primavera chegar. Vamos almoçar no Restaurante Inhaca, na Rua Portas de Santo Antão, cheio de bares onde se toma uma boa ginjinha, uma das minhas bebidas preferidas. O bardo da Rua São João, tendo ao lado a moreninha estonteante, pretende ir com a gente. Mas com uma condição: a moreninha tem que levar litros de farinha, para que não falte sua farofinha de ovos. 

Antes da viagem a Lisboa, devo lançar em Natal a nova edição do meu romance “As dunas vermelhas”, a ser lançado pela editora de Carlos Fialho. O lançamento será no Solar Bela Vista, mas Volonté sugeriu que deveria ser na 15 de Novembro, para reunir um grande número de mulheres da vida difícil. Não entendi as intenções do poeta peripatético. 

Também já está combinado um almoço na casa do chef Gerard Baptiste. Ele vai fazer um Bacalhau à Acari, que se rivaliza com o bacalhau de fim de ano, feito por Julieta, no solar da Rua Heráclito Vilar.

Falar na Heráclito Vilar, surge inteira a lembrança de Lula Guimarães, poeta, amigo, boêmio maravilhoso. Me lembro de nossas andanças por Lisboa, ele com aquele andar de albatroz de um poema de Baudelaire. Grandes porres num restaurante que fica no número 7 da Rua Eça de Queiroz. No Inhaca, quando o garçom perguntou o que ele queria, Lula respondeu: “Quero tudo que engorde e faça mal!” Grande Lula!

Na cidade do Porto, Lula e eu estávamos atravessando a pé uma daquelas pontes colossais sobre o rio Douro, quando Lula começou a sentir fortes dores no peito. Fiquei assustado, sugeri que deveríamos ir para um hospital. Ele respondeu: “Prefiro um bar em Vila Nova de Gaia.” E assim foi feito. Num poema, ele dizia: “Se chegar o infarto, atravessarei a ponte de safena?” Poucos anos depois, quando o infarto chegou, ele não atravessou aquela ponte.

Pensamento da semana:
“Entre não ter caráter e tê-lo pra exibir como troféu, é melhor não participar do campeonato.” (Rodrigo Rodrigues Roque)