família subversiva




Saiu ontem na FOLHA e no UOL que minha mãe foi monitorada pela ditadura de 1971 até mais ou menos 1983, época das DIRETAS JÁ, movimento que ela ajudou a organizar.

Boa matéria da FERNANDA ODILLA e NATUZA NERY.

Documentos sob a guarda do Ministério da Justiça revelaram o monitoramento.

Algo que a família sabia.

Sempre fomos seguidos.

Os documentos fazem parte de um acervo do Ministério da Justiça de 84 caixas que será entregue ao Arquivo Nacional nas próximas semanas.

Meu pai foi preso e desapareceu em 1971. Minha mãe, que ficou também 13 dias presa no DOI-Codi do Rio de Janeiro, e depois foi solta sem explicação e acusação, passou a vida tentando esclarecer o caso e permaneceu na mira do setor de espionagem do regime, inclusive do SNI (Serviço Nacional de Informações).

Minhas irmãs chegaram a ser presas no final dos anos 1970, quando militavam no movimento estudantil que se reorganizava, no DOPS daqui de São Paulo.

Foram interrogadas pelo delegado e ex-senador ROMEU TUMA, na época diretor do DOPS paulista.

Desde a infância, estávamos acostumados com reviravoltas, esconderijos, vida quase clandestina, exílio do pai, festinhas em embaixada com outros exilados, esperar salvo-conduto, cassação e prisões.

Mas, por incrível que pareça, nunca perdíamos o bom humor.

Desde a infância, nossos telefones do Rio e depois de São Paulo eram grampeados.

Ouvíamos cliques suspeitos. E brincávamos muito com nossos agentes espiões do outro lado da linha.

Falávamos com eles. Dávamos recados, conselhos, receitas e até notícias.

Devem estar gravadas nossas vozinhas em fitas empoeiradas em arquivos “ultra secretos”.

Sin perder la ternura…